Pais e líderes, falem!
Um bom líder no mundo corporativo não é, necessariamente, um bom pai dentro de casa, e vice-versa. Mas ser um bom pai é também um bom exercício de liderança. Não quero aqui aproximar as relações familiares às de trabalho, mas lembrar que o caminho para exercer bem qualquer um desses papéis é o mesmo: o da conquista da admiração.
E a admiração só é conquistada quando os homens, pais ou gestores, são capazes de falar de maneira assertiva e de ouvir realmente o dito e o não dito. É claro que a regra vale também para mulheres líderes, mas escolhi aqui de falar liderança masculina porque as gestoras, em geral, são mais hábeis na comunicação.
A fala de um pai tem papel importante na formação da criança. Um pai deve falar com seu filho sobre seus sonhos, medos, esperanças, valores e experiências. É a partir da fala do pai que uma pessoa forma suas bordas, seus limites. Mesmo que um filho não raro rompa essas bordas, é preciso que ele saiba que elas existem.
O saudoso Rubem Alves, no livro “Ostra Feliz Não Faz Pérola”, compara o ato da fala ao “falus”, o órgão masculino. “O ato de falar é um ato masculino. Fala é falus: algo que sai, se alonga e procura um orifício onde entrar, o ouvido… Já o ato de ouvir é feminino: o ouvido é um vazio que se permite ser penetrado. Não me entenda mal. Não disse que fala é coisa de homem e ouvir é coisa de mulher. Todos nós somos masculinos e femininos ao mesmo tempo”, foram suas palavras ao descrever a importância de se saber falar e ouvir nas relações.
Enquanto a fala é importante na formação dos filhos, a escuta é essencial na criação de laços. Pais só chegam ao coração de suas crias quando demonstram capacidade de ouvir. É preciso se fazer feminino no ato da escuta, escutando por inteiro, sendo intuitivo ao ouvir além do que foi dito.
E tudo isso cabe perfeitamente no ambiente corporativo. Executivos devem ser modelos para suas equipes a partir da construção assertiva da fala e da capacidade de escuta. Não devem abrir mão de dizer o que querem, o que não querem, o que se pode ou o que se não pode fazer. Muitas vezes falamos só o que queremos, e pecamos ao não deixar claro o que não queremos!
Há executivos que, como pais equivocados, acreditam que suas equipes não cresceram e as tratam como crianças que precisam de castigo e coerção. Mas o verdadeiro pai e o verdadeiro líder só conseguem adesão a suas ordens a partir da admiração. Pode-se ensinar com coerção por um curto período. Depois disso, a paternidade e a liderança de equipes somente trará bons frutos quando exercidas por alguém que se demonstra modelo, como pessoa ou profissional.
As pessoas precisam prestar mais atenção como estão se comunicando. Os executivos devem refletir como estão se posicionando, verificar se suas ordens e orientações são dadas de forma em que possam realmente ser compreendidas, em nome da produtividade.
Já dentro de casa, os homens precisam investir mais tempo na paternidade. Vejo que há pais substituindo uma conversa verdadeira pela comunicação por Whatsapp! Não tecle com seus filho, fale! A fala tem cor! Para quem não tem praticado a fala com seus filhos, que tal tomar o próximo Dia dos Pais como o início de um recomeço?